Opinião: Mad Men (7a temporada)

AVISO: NÃO LEIA ESTE POST SE VOCÊ AINDA NÃO ASSISTIU À SÉTIMA TEMPORADA DE MAD MEN.

Toda vez que eu conto para alguém eu assisto a “Mad Men”, ouço a mesma pergunta: “Sobre o que é a série?”. Eu explico que se passa em Nova York, na década de 1960, e que é sobre a uma agência de publicidade na Madison Avenue (daí o “Mad”). A pergunta seguinte sempre é “e o que acontece?”, como se algo mais “emocionante” devesse acontecer para justificar que eu veja a série.

Não há grande acontecimento: eles não vão tentar salvar o mundo de ataques, não solucionam mistérios, não lutam por tronos nem se tornam traficantes de drogas ou conspiram para serem presidentes dos EUA. Os personagens estão simplesmente vivendo suas vidas normais na década de 1960, com os problemas e conflitos que surgem em um ambiente de trabalho (especialmente para as mulheres). Assim, “Mad Men” é um retrato daquela década (roupas, penteados, o fumo constante) e cobre os principais eventos que aconteceram (a morte de JFK, a morte do Dr. Martin Luther King, o início dos hippies, etc.).

Por isso, a experiência de assistir a este seriado é diferente a de assistir a outros. Você deve ver mais de um episódio para algo “acontecer” com um personagem. Mas isso é mais parecido com a vida real, certo? Não é todos os dias que algo emocionante acontece. Este é um show “character-driven” (movido pelos personagens), ao invés de “action-driven” (movido por ações), o que significa que todos os personagens são totalmente desenvolvidos e extremamente complexos, com o personagem principal Don Draper (John Hamm) sendo o mais complexo. Em sete temporadas ficamos sabendo que ele é uma espécie de lenda em sua área porque ele é muito bom em seu trabalho, mas também que ele roubou a identidade de outra pessoa durante a Guerra da Coréia, engana repetidamente em sua mulher, tem 3 filhos, que ele mal vê, se divorcia e se casa novamente (e continua traindo a sua nova esposa), bebe muito e nunca parece feliz.

Apesar de eu acompanhado o seriado por sete temporadas, eu não tinha ideia do fim que dariam para o Don. Algumas semanas atrás eu estava conversando sobre isso com uma amiga e nenhuma de nossas hipóteses chegou do que aconteceu no final da série, que foi ao ar no domingo passado. Durante a 7a temporada, Don se perdeu novamente: ele se divorciou, sua agência foi vendida e ele não sabe o que fazer, então ele sai da sala no meio de uma reunião um dia e começa uma viagem de carro.

No último episódio, já em 1970, vemos que essa viagem de Don o leva para a Califórnia, depois que ele descobre que Betty (January Jones) está morrendo de câncer de pulmão (eu queria saber se o fumo constante teria uma consequência de qualquer personagem…) e quer deixar seus filhos com seu irmão, para ver Stephanie (Caity Lotz), a sobrinha de Anna, e acaba sendo arrastado por ela para um retiro espiritual. No início, ele não abraça a experiência. Afinal de contas, ele é Don, o cara que não mostra seus sentimentos e que quase nunca se abre para alguém. Então, algo diferente acontece nos últimos minutos do episódio: ele perde o controle, liga para Peggy (Elisabeth Moss) e basicamente diz que ele falhou em tudo na sua vida. Minutos mais tarde, durante uma terapia de grupo, um homem desconhecido conta ao grupo como ele se sente invisível em sua própria casa (a família sequer nota sua presence quando ele entra na sala). Don se levanta, vai até o homem e o abraça, chorando copiosamente.

Finalmente, na última cena, vemos Don meditando e sorrindo e a cena é cortada para o anúncio Coca-Cola de 1971(!): “Eu gostaria de comprar uma Coca-Cola para o mundo” (“I’d like to buy the world a Coke”). Fiquei olhando para a tela por um tempo, me perguntando o que isso significava… Os autores estavam nos dizendo que Don voltou para Nova York e que criou esse anúncio icônico? Não sabemos! É muito provável, mas é definitivamente ambíguo. Após o fim do episódio, pesquisei online sobre o comercial, como provavelmente muitos outros fizeram, e a agência de publicidade que de fato fez este comercial da Coca chama McCann Erickson, que é exatamente o nome da agência onde Don trabalha! Então, talvez os criadores da série sabiam desde o início que fariam essa conexão.

Enquanto isso, em Nova York, Peggy e Stan (Jay R. Ferguson) finalmente ficam juntos em uma cena doce e divertida; Pete (Vincent Kartheiser) se muda com sua família para trabalhar para uma companhia aérea (o que é irônico, já que seu pai morreu em um acidente de avião); Joan (Christina Hendricks) é abandonada por seu namorado machista, que se recusa a aceitar que ela trabalharia e que ele não seria sua prioridade número 1 (ah, 1970…); Roger (John Slattery) inclui seu filho com Joan em seu testamento e se casa com Marie (Julia Ormond); e, o final mais triste de tudo, Betty é vista fumando em sua cozinha, lendo um jornal, enquanto Sally (Kiernan Shipka) lava a louça. Então Betty se conformou com seu destino e voltou para aquilo que causou sua morte: o cigarro.

Claro que seria possível escrever muito mais sobre cada final, especialmente os das mulheres, mas apenas um artigo mais longo e separado faria justice a esta série. Ela merece ser devidamente estudada (e eu tenho certeza que já está sendo estudada em algum lugar) e vista por todos.

Então, para resumir, embora o final do Don tenha sido o mais ambíguo, vou ficar com a interpretação de que ele está bem. Realmente pensei que ele iria morrer no final. Mas eu vou manter a imagem dele sorrindo e fingir que ele finalmente encontrou a felicidade – enquanto bebe uma Coca-Cola.

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