Crítica da Broadway: Tootsie

Um homem finge ser uma mulher para conseguir um emprego. Isso é Tootsie, em poucas palavras. O filme de 1982, estrelado por Dustin Hoffman, é uma história clássica e muito divertida. Mas ele foi lançado na década de 1980, quando as conversas em torno das mulheres no local de trabalho não eram tão onipresentes como hoje.

Por isso, quando soube que seria adaptado para um musical na Broadway, meu primeiro pensamento foi “como vão conseguir fazer essa história funcionar hoje em dia?”. Para minha grande surpresa, essa produção não apenas adapta o filme, mas é também uma atualização do material, abordando a pauta atual sobre como as mulheres são tratadas.

Michael Dorsey (Santino Fontana) é um ator que está lutando para encontrar um novo emprego, principalmente em razão de sua personalidade difícil. Sua amiga (e ex-namorada) Sandy Lester (Sarah Stiles) também é atriz e menciona que fará um teste para um musical que será a continuação de Romeu e Julieta. Quase sem ideias e dinheiro, Michael decide vestir-se de mulher para fazer um teste para o papel. E é aí que nasce Dorothy Michaels.

Assim como no filme, Michael se apaixona por sua colega (Lilli Cooper), mas ela só o conhece como Dorothy, o que complica as coisas. Nesta versão, Michael percebe mais rapidamente como é difícil ser uma mulher, e o diálogo deixa claro para o público que a importância do tema não foi ignorada pelos produtores.

Deve-se reconhecer os méritos de Santino Fontana, que consegue mudar de Michael para Dorothy rapidamente e sem falhas: ele não apenas tira a roupa de Dorothy em segundos, mas também é capaz de mudar sua voz com a mesma facilidade (ou, pelo menos, ele faz parecer ser fácil).

As músicas são perfeitas para esse tipo de comédia de ritmo acelerado, principalmente aquela cantada pela amiga por Sandy. Embora Sandy seja um personagem secundário, seu arco é interessante e instigante, e sua música-tema foi a que ficou na minha cabeça quando saí do teatro.

Se o filme já era interessante o suficiente, o musical consegue torná-lo ainda mais divertido e relevante, com grande ênfase nos acontecimentos atuais sobre as mulheres na indústria do entretenimento, incluindo o movimento #metoo, sem criar um drama a partir disso.

Ele também lida com as expectativas que criamos para nós mesmos, como, por exemplo, fazer uma lista de coisas que desejamos realizar até uma certa idade – e o que fazer quando percebemos que não cumprimos a lista.

Vale a pena ver e espero que permaneça na Broadway por um tempo.

Tootsie estreia oficialmente em 23 de abril de 2019.



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